sábado, 1 de novembro de 2014

NÃO POSSO AMAR O DESTINO


        O céu estava em tons rosa e um enorme bando de gaivotas apareceu vindo do nada enchendo o céu de asas em todas as direcções. Os tons rosa começaram a desvanecer-se e uma pequena estrela apareceu, no ainda ténue azul, rodeada pelo rosado dos cirros. Um barco fazia a travessia sobre o azul nocturno do rio. Das paredes das casas saia um calor nu e abafado. A tarde tinha parado nesse crepúsculo e o nome do livro continuava assim enxuto, seco, predestinado. “não posso amar o destino”.

Salgado sabia que nada acontece por acaso, o sonho, a frase no computador tudo tinha um sentido e um caminho. Para iniciar esse caminho era necessário equilíbrio, o caminho faz-se caminhando, era a sua vontade e o seu receio, sabia que essas palavras não têm amanhã, saltam os muros da alma, pernoitam na sombra dos alpendres, plantam sementes de poemas entre as estrelas do dizer, transportam um novo ciclo de escrita onde tudo se renova.

        Salgado sentou-se em frente ao computador, a noite é um lugar sem som, o coração é uma raiz arborescente que aceita o tempo e atravessa o rio com o olhar descalço.      Nesta noite começava a vida do Salgado.

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