O céu estava em tons rosa e um enorme bando de gaivotas
apareceu vindo do nada enchendo o céu de asas em todas as direcções. Os tons
rosa começaram a desvanecer-se e uma pequena estrela apareceu, no ainda ténue
azul, rodeada pelo rosado dos cirros. Um barco fazia a travessia sobre o azul
nocturno do rio. Das paredes das casas saia um calor nu e abafado. A tarde
tinha parado nesse crepúsculo e o nome do livro continuava assim enxuto, seco,
predestinado. “não posso amar o destino”.
Salgado sabia que nada acontece por acaso, o sonho, a frase
no computador tudo tinha um sentido e um caminho. Para iniciar esse caminho era
necessário equilíbrio, o caminho faz-se caminhando, era a sua vontade e o seu
receio, sabia que essas palavras não têm amanhã, saltam os muros da alma, pernoitam na
sombra dos alpendres, plantam sementes de poemas entre as estrelas do dizer, transportam
um novo ciclo de escrita onde tudo se renova.
Salgado
sentou-se em frente ao computador, a noite é um lugar sem som, o coração é uma
raiz arborescente que aceita o tempo e atravessa o rio com o olhar descalço. Nesta noite começava a vida do Salgado.
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